140 anos de Maranhão Sobrinho (1879 - 2019)

domingo, 23 de junho de 2019

Em visita ontem a Barra do Corda (22), nosso confrade Mário Hélder Ferreira trouxe importante item do espólio do saudoso Prof. Nonato Silva, utensílio de valor inestimável com o qual presenteou a Casa de Maranhão Sobrinho: uma Olivetti Lettera 22, usada pelo mestre em suas correspondências e outros textos em que deixou registradas algumas pérolas do vernáculo, como filólogo que era. A ABCL também recebeu das mãos do confrade um exemplar do livro “Projeto Rondon – Por que foi extinto?” da autoria de Maria Lucimar M. de Albuquerque, sua prima legítima, e “Lições Inspiradas dos Grandes Mestres”. Agradecemos ao poeta Mário Hélder e anunciamos que a ABCL está mais enriquecida com a concessão destas dádivas.





quinta-feira, 6 de junho de 2019

O projeto "Poesia na Escola", realizado ontem na Escola Wolney Milhomem - CAIC, contemplando as turmas do 6º ao 9º ano, matutino e vespertino, muito me impressionou. Tive a oportunidade de uma alocução acerca da literatura barra-cordense, homenageada naquele evento. Vi o empenho e a desenvoltura de meninos e meninas em biografar poetas e declamar seus versos e encená-los. Vi o esforço das professoras Maria de Lourdes e Francimar, e do Gestor Celso Santiago, em não deixar no esquecimento os nossos poetas que já se foram, entre os quais destaco Luís Pires, talvez um dos mais injustiçados. Fiquei muito feliz ao ver sua imagem no painel dos "Poetas Cordinos". As homenagens também se estenderam aos poetas Maranhão Sobrinho, Wolney Milhomem, Nonato Silva, Assis Soares, Jorge Abreu, Ricardo Milhomem, Luzia Barroso e a mim. Agradeço e parabenizo iniciativas como esta. É Barra do Corda volvendo o seu olhar para se autoconhecer.





Encenação do poema "Soror Teresa", de Maranhão Sobrinho.






sexta-feira, 31 de maio de 2019

Na manhã de sexta-feira (24), a Academia Barra-Cordense de Letras recebeu na Biblioteca Galeno Edgar Brandes uma turma de alunos da Escola CAIC. A palestra sobre literatura barra-cordense foi ministrada pelo membro da ABCL Kissyan Castro.








quarta-feira, 8 de maio de 2019

BARRA DO CORDA E SEUS 184 ANOS

        



Por Kissyan Castro

        Barra do Corda tem a nobre dádiva de fazer vir à luz este dia – 03 de maio – tal qual uma oferenda de cheiro suave sobre o alto do Calvário, sem qualquer estereótipo ou repetição ritualística. Pois aqui, nesta cidade, cada dia nasce outro, insuspeitado, belo e único.

Hoje Barra do Corda completa 184 anos. Não é mais uma menina. Apesar do inquebrantável saudosismo que constitui a própria essência de nossa gente. Um passado riquíssimo que persiste e que aprendemos a amar sem quaisquer contornos ou próteses que pudessem justificá-lo.

          A propósito, quando eu era menino lembro-me que Barra do Corda era para mim apenas a rua Rio Xingu – meu microcosmo – onde cresci, com sua constelação de moleques empinando “suro”, soltando traques e pega-moleques, e as mães com cipós em riste, gritando: “passa pra dentro, menino!” As fofocas passavam de casa em casa sem nenhum transtorno, despontavam junto à manhã com as galinhas ainda a ciscar no quintal. E eu, brincando na rua de peteca,enquanto mamãe preparava o almoço. Dona “Nega”, a professora, congregava as crianças em sua casa para auscultar nosso desempenho na carta de ABC. Quando errávamos recebíamos, de mãos espalmadas, o castigo da “Madalena” – como era chamada a palmatória. Brincávamos de cai-no-poço, da pata e de esconde-esconde. Quando não havia asfalto podíamos “comer peixe” enfiando o triângulo (que não tinha esse formato) na areia, depois das chuvas. Costumávamos pegar “bicuda” nas carroças que transitavam desajeitadas por ruas dantes nuas. A rua era nosso mundo, onde vivíamos sem sobressaltos. A chegada do circo, no entanto, causa-me uma mescla de alegria e medo. Medo porque fazia-me lembrar do dia em que um palhaço, atado a uma enorme perna de pau, atravessara a rua, enquanto eu voltava da quitanda do Seu Zezé levando um “mercado” de manteiga. Assombrei-me, pois para mim era como um gigante prestes a me pisotear.

            De repente acordei e vi-me noutra cidade. Dilatada, robusta e promissora. Barra do Corda cresceu. O asfalto encobriu com seu negrume aqueles idos saudosos.Contudo, ainda podemos ouvir o seu latejo a embriagar-nos de vertigem. Esses tempos não estão mortos, coexistem no presente, respiram conosco, crescem com o tempo.

Sim à Barra do Corda de Olímpio Cruz, sublimada e elevada a mito em seus fragrantes versos, enriquecendo nosso imaginário, viscerando o orgulho de ser cordino. Ainda que no presente reclame ela vozes outras, novos mitos insurjam e reivindiquem novas manifestações artísticas, novas formas de dizê-la, de iluminá-la.

            Barra do Corda está em cada passo que transita na rua e que nela repercute. A brisa soprando nos bambus, o sol tateando o mármore da Matriz, a azáfama do tráfego matutino, as diversas vozes que dela ecoam vão compondo o que há de cordino em cada um de nós. Estamos em cada um de seus odores, em cada uma de suas frutas, de seus semáforos, de seus rios, compondo a sinfonia de suas águas. Somos seus múltiplos barulhos. Barra do Corda não é singular, é plural. Somamos às dela as nossas vozes, e assim nasce o cordino desse diálogo, como neste poema que compus há tempos:

Até ao barro me Barra
esta Corda onde moro.

Tudo me acorda
e mearinha nesta Barra,
até o barro.

Assim segue o rio. Assim seguimos molhados e embalados nos úmidos braços desse “Rio Conjugal”. Nossas angústias nele mergulhadas vão escrevendo suas gotas, avolumando suas águas. Pois não há dor tão funda que não possamos entregar ao rio. Tens alguma inquietude?... O rio leva! Não consegues esquecer as duras palavras que o atingiram?... O rio leva! Mas não confidencie nada de imediato ao Mearim. O Mearim é um velho austero que de tanto ouvir rumores, turvou-se. Contudo, podes depositar tuas dores pacificamente junto ao Corda, cuja virilidade desata qualquer problema. Destarte, o Corda corre e vai dizer baixinho ao Mearim – porque ambos não guardam segredo – as coisas que não conseguiríamos contar sem turvar ainda mais as suas águas. As árvores que se debruçam às suas margens vão ouvindo nossas conversas. Até mesmo os pássaros, ao pousar em seus galhos, ficam a par de tudo.O rio quer passar... reféns, passamos.

“nunca fui
de pronunciar rio

preferi antes
o minuto de silêncio

sempre dei asa
à pausa

tudo o que digo
cabe só
no meu umbigo

rio é passar
performance do espaço
quando o tempo
é puro aço

o rio passa
eu passeio

ainda passará
quando eu for
passarinho”

O rio abriga nossas vozes e afagos; nossa infância, nossa família e nossos amores. O Corda é mais que a corda que nos ata à Barra. Viver aqui é não ter subterfúgios; é acordar e ver o Corda mearinhado ao Mearim.

“e este rio metido
no meu gasto mensal
no meu pé de meia
na minha meia verdade

metido
na minha cara a tapa
no meu preço a prazo
no meu saldo devedor
no meu queima total

e agora fervendo
na gema
do meu poema”

Barra do Corda pequena. Barra do Corda querida. Barra do Corda pequena demais para em seu bojo conter-nos, que o coração cordino é enorme e não pulsa em qualquer peito. Mas que outra maneira existe para mantermo-nos unidos,seguros, senão estreitando esse amorável abraço com o qual nos acalentam os rios Corda e Mearim? Porque a luta da cidade é braba, e estar longe da Barra é que é, de fato, uma barra.

            Parabéns, Barra do Corda, pelos seus 184 anos!

segunda-feira, 6 de maio de 2019

A Academia Barra-Cordense de Letras e sua origem histórica





As primeiras manifestações literárias de que se tem registro, em solo barra-cordense, remontam à segunda metade do século XIX, naquela manhã memorável de 7 de setembro de 1858, quando o tabelião e poeta Pedro Alexandrino Gualberto de Macedo Leão declamou, em solenidade pública, um oportuno poema de sua lavra, em cujas estrofes propala nosso primeiro gentílico – “Povo Barrense”. Nessa época, Barra do Corda era apenas uma tenra vila, com população inferior a 500 habitantes, incluindo escravos.
Todos são concordes em que “O Norte”, criado a 12 de novembro de 1888, foi não apenas o marco da imprensa barra-cordense, seu mais fecundo arrimo e propulsor, mas também a principal referência objetiva do surgimento da produção mental que então começava a se processar entre nós, agregando em seu bojo intelectuais e artistas que fizeram história no alto sertão maranhense e além, entre os quais nomeamos, em sua fase inicial, Isaac Martins, Dunshee de Abranches, Frederico Figueira, Rocha Lima e Melo Albuquerque. 
A franca hostilidade ao Trono deflagrada das páginas d'O Norte, desencadeou o surgimento sucessivo de outros periódicos locais, a exemplo do combativo “Campeão” (1892), cuja maior glória foi ter feito circular os primeiros poemas de Maranhão Sobrinho, “O Porvir” (1896), de propriedade e redação de Maranhão Sobrinho, e “O Guarany” (1899), o último paradeiro da safra poética do grande aedo em solo barra-cordense.
Morto o expoente máximo de nossas letras, a 25 de dezembro de 1915, o culto à sua pessoa não demoraria a aparecer. Assim foi que, sob a égide do grande bardo, funda-se, em 12 de março de 1922, o Grêmio Literário “Maranhão Sobrinho”, tendo como finalidade precípua “o desenvolvimento intelectual e a educação cívica da mocidade barra-cordense”.
A década de 1940 assinala um período de profundas mudanças no setor econômico, social, político e cultural de Barra do Corda.Por essa época, retorna a Barra do Corda, depois de longo périplo em Roma, Raimundo Nonato da Silva, então Frei Paulo, recém-ordenado presbítero em Sobral, no Ceará. Logo passa a agregar em torno de si algumas das personalidades mais representativas, entre as quais Francisco Walter Meneses, Éden Salomão, Maria Conceição Guimarães, Wolney Milhomem, Lourival Pacheco e outros, criando-se, em 1946, o Grêmio Literário “Machado de Assis”.
Nesse mesmo ano, surge no cenário de nossas letras a figura emérita do poeta, sertanista, indigenista e etnólogo Olímpio Cruz, com a publicação do poema indígena “Puturã”, seu livro de estreia. Autor das letras do Hino Oficial de Barra do Corda e Canção Cordina, é Olímpio Cruz quem irá arregimentar e conjugar esforços para a fundação, no dia 22 de março de 1949, do Centro Cultural “Maranhão Sobrinho”, com uma estrutura organizacional semelhante à das Academias, tendo, inclusive, o seu próprio periódico – “O Lumiar”. Mais tarde, surgiu o Grêmio Recreativo Cultural “Maranhão Sobrinho”, fundado por Suarez Pinto Cavalcante, de tendência clubística, secundando-o, entre outros, Clodomir Teixeira Milhomem e Olímpio Cruz.
Finalmente, em 28 de julho de 1992, data que marca a adesão do Maranhão à Independência do Brasil, reuniram-se os sócios fundadores do Grêmio Recreativo Cultural “Maranhão Sobrinho” e mais pessoas da representação cultural da sociedade, na Sala de Honra do Clube de Mães de Barra do Corda, com a finalidade de instalar solene e oficialmente a Academia Barra-Cordense de Letras – Casa de Maranhão Sobrinho. Sua primeira Diretoria compunha-se de Nonato Silva – Presidente, João Pedro Freitas da Silva – Vice-Presidente, Sebastiana Coracy C. Piauilino – Secretária, e Galeno Edgar Brandes – Orador Oficial.
Constituída inicialmente de 35 cadeiras, ampliou esse quadro para 40, em 1995. Cada cadeira está sob o patronato de um vulgo iminente da cultura barra-cordense, tendo Maranhão Sobrinho como seu patrono geral.O quadro atual do Silogeu, conforme a ordem das cadeiras, está assim constituído: Fernando Eurico Lopes Arruda, Kissyan Castro, Tâmara Pinto, Sebastião Bonfim, Mário Hélder, Jorge Abreu, Eduardo Galvão, Álvaro Braga, Efe Brandes, Coracy Piauilino, Juraíza Bílio, Assis Soares, Heider Morais, Alda Brandes, Dorgival Castro, Marcos Pacheco, Luciana Martins, Isael Lobão, Jagne Amorim, Delta Martins, Osmar Monte, Luís Carlos Rodrigues da Silva, Josemar Santos, Nadje Maranhão, Íris Fialho, Fernando Braga, César Braga, Domingos Augusto, Sidney Milhomem Filho, Francisco Brito, José Bernardo, Aldaléa Brandes, Olímpio Cruz Neto, Marinete Moura, Antonio Carlos Lima, Augusto Galba, Olímpio Cruz Filho, Gracinha Santos, Rubem Milhomem e Luzia Barroso.
Desde a sua fundação, há 26 anos, a Academia Barra-Cordense de Letras mais se tem firmado como uma instituição operante e necessária, um verdadeiro reduto em que vicejam poetas, jornalistas, cronistas, dramaturgos, filólogos, filósofos,pedagogos, professores, historiadores, economistas, engenheiros, magistrados, militares, diplomatas, médicos, músicos, teólogos, artistas plásticos. Em todos eles a mesma luz, o mesmo ideal: o cultivo das letras, da literatura local e a promoção da cultura em todos os seus aspectos.